Campinas nos anos 50

Uma parte deste site será dedicada a Campinas nos anos 50, onde o autor nasceu e viveu.

Para ir a São Paulo, tomava-se ônibus na Estação, Expresso Brasileiro ou Viação Cometa. Havia também trem, em especial as litorinas da Cia. Paulista de Estradas de Ferro, que saia da Estação, em frente às duas agencias rodoviárias, Cometa e Expresso Brasileiro.

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Quando se ia de ônibus, em São Paulo, pelo Expresso Brasileiro, a chegada era na esquina da Ipiranga com S.João e após 1961, chegava-se na Estação Rodoviária.

Pelo Cometa, antes da Rodoviária, era na Ipiranga mesmo, mais abaixo.

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Ipiranga com S.João…

Iria demorar um pouco para que eu me incluísse no sentimento de Caetano Veloso, na sua famosa música sobre esta esquina… Faço minhas as palavras deste autor: Turan Bei

Curtir Sampa numa boa

História publicada em 28/09/2006

Conhecer seus segredos, seus mistérios, encantar-se com sua sedução, atingir o topo das realizações, enfim tornar realidades os seus sonhos, eis que todos os migrantes esperam ao chegar em Sampa.
Por isso dissecar a canção de Caetano Veloso é um bom exercício para se descobrir ente linhas o que ele sentiu ao pisar pela primeira vez em Sampa.

as seis estrofes de Sampa:

1ª a emoção ao cruzar a Ipiranga com a São João se da pelo fato que ele desceu do ônibus que veio do Rio de Janeiro cujo ponto final era exatamente naquela esquina. Diante dos seus olhos lá estavam a cinelândia, o bar Jeca, e o Brahma. A sua grande cabeleira chamou a atenção das meninas que cochichavam com risinhos discretos.

2ª enquanto atravessava a São João para a Ipiranga, ainda atônito, procurava na multidão um rosto com quem pudesse se identificar, e foi na Rita Lee que ele se lembrou.

3ª refeito do primeiro impacto, o sentimento seguinte foi de solidão, embora no meio da multidão não encontrasse a sua própria imagem refletida nas outras feições.

4ª diante da realidade do momento acha que encontrou o avesso do que sonhava.

5ª para se justificar da decepção, fala do lado ruím do que vê: filas, poluição, o povo oprimido, da modernidade, o novo excluindo o antigo, tudo tão diferente da simplícidade da sua terra natal.

6ª Panaméricas, ele se refere a um seu amigo paulistano, José Agripino de Paula, autor do livro “Panamérica”. Tumulo do samba, uma expressão atribuída a Vinicius de Moraes sobre o ritmo em Sampa, e acha que o verdadeiro samba aconteceu na época dos quilombos.
E por fim já aclimatado com a garoa, ele curte Sampa numa boa.

E Campinas como era?

A cidade não tinha 150 000 habitantes. Menos de 10 000 telefones (quatro números apenas). Poucos automóveis, não havia semáforos, sinalização muito poucas e os guarda civis eram conhecidos pelo nome. Tinha umas dez linhas de bonde, com 12 números, que até hoje me recordo quais são.

Era possível após o jantar ir visitar alguém no então extremo da cidade, em relação aonde morávamos, de bonde em menos de 1 hora. Por exemplo, saíamos da Rua Luzitana e iamos até a Vila Industrial, que era um bairro considerado distante.

Quando estudei de dia no Culto à Ciência, que era no Botafogo, ia de bonde por causa do sol. Quando passei para a noite, ia (e voltava) perfeitamente a pé. Escutando num radio de pilhas em 49 metros estações do Rio de Janeiro…

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castelo1963 Foto Raymond DeGroote

Li todos os livros do Picapau Amarelo, de Monteiro Lobato, na Biblioteca Municipal, que ficava no subsolo do Teatro Municipal.  Ficava a meio nível da rua e pela janela dava para ver os bondes que passavam na Rua 13 de Maio. Na foto acima, na esquina que ficava o hotel Grigoletti, se vê a Agência da Viação Cometa, que é retratada um pouco antes, acima.

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Mas como era mesmo afinal os anos 50 no dia a dia?

Andei pesquisando e lendo na Internet historias dos anos 50 e achei algumas sobre a primeira TV, a primeira geladeira, e vou fazer o mesmo, acrescentando o primeiro liquidificador, que foi o primeiro eletrodoméstico que entrou na minha casa. Estas tres coisas entraram na minha casa em meados dos anos 50.

Primeiro liquidificador

Era Walita, “quarto centenário”, de 1954, portanto, e curiosamente, ainda tenho a base dele comigo.

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Minha mãe ficou com receio de ligar e chamou a irmã dela, Maria, Mary, como a chamávamos, que ele gostava por causa da influencia do cinema americano e la veio ela toda compenetrada. Não consigo me lembrar o que foi escolhido para o primeiro uso, mas me lembro claramente que encheram o copo do liquidificador, colocaram na tomada e ligaram…. esqueceram da tampa e foi uma sujeira só….

Primeira geladeira

Era bem pequena, de uma marca que só vi na minha casa: Camposalles. Isto mesmo, tudo junto… Não encontro qualquer traço dela na Internet nem da fabrica, que era de balcões de refrigeração… Creio que meu pai comprou uma das duas que se venderam em Campinas … Me lembrou daquele episódio de um dos filmes Peggy Sue, seu passado a espera, quando ela chega na casa dela dos anos 50 e o pai comprara um Ford Edsel… A geladeira ficou conosco pouco tempo, não sei bem porque e não consigo lembrar da que se sucedeu… mas me lembro que durante toda a vida dela em casa, minha mãe não deixou tirar o  “pallet” de madeira que serviu para transportá-la e funcionava como se fosse um tipo de “pé”…

Primeira TV

Em S.Paulo, que eu visitara aos 14 anos, minha avó, mãe do meu pai, já tinha desde 1950, quando começaram as transmissões regulares, por algumas horas por dia.  Não ha traço delas na Internet. Vejo na noticia que existiam de todas as marcas apenas 200. Era mais ou menos assim: Nossa primeira aTV, em Campinas, foi comprada em 57, e era Philco. Meu pai reuniu a família solenemente e comunicou teríamos uma limitação em compras como sapatos, roupas, etc, até o fim das prestações.

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Foi a primeira vez que tive contacto com som da alta fidelidade. Isto é, como as transmissões eram limitadas, quando não havia imagem, ficava tocando musica com aquela carinha do indio… A Transmissão eram tipo FM, e o som, ótimo. Quando começava a transmissão, eu parava de ouvir  e não queria ver mais nada….

A cidade em si

Nasci em Campinas, em 1943, mas meu pai era professor primário e pegou uma nomeação no interior e somente voltamos em 1949, por uma troca que ele fez com a mãe dele, que tambem era professora, no caso, diretora de Grupo e ia se aposentar. Nossa primeira casa foi na Rua Uruguaiana e a segunda e última para mim, na Rua Luzitana.

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Olhando a Luzitana em direção à Ponte Preta, que era o começo dela:

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Olhando em direção ao Centro:

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Rua Aquidabã, antes de virar Av. Aquidabã

A Aquidabã, olhando desta esquina para o começo dela, em direção à Estação:

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Olhando para o fim, em direção ao Bosque:

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Aquidabã, bem no começo, ao lado do trilho do trem:

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O que aconteceu com esta rua nos meados de 70:

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Daniel e Pedro, à esquerda, recém chegados da primeira viagem que fiz aos EUA e Hugues Jorge, de costas (vejam no Ha 50 anos do Correio Popular de 2 de Julho de 2017 onde comentam que ele ganhara um concurso de fisiculturismo)

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Para quem é desta época, uma crônica que mostra onde mais aconteceram este tipo de coisas.

Uma volta na cidade

Descia a Aquidabã, virava na Barão de Jaguara, em frente ao Ciro’s Bar e descia a Barão.

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Descia mais um pouco, passava a Moraes Salles e na quadra onde existe o mercado “novo”, passava em frente a Agencia Chevrolet, e se desse sorte, teria algum carro novo para dar uma olhada.

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Descia mais um pouco, cruzava a Conceição e chegava na quadra principal da rua, com várias lojas e estabelecimentos memoráveis

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Na esquina com a Conceição, do lado direito de quem desce, tinha o Bar Ideal, à esquerda tinha o RMonteiro, onde hoje é a Livraria Vozes, em frente a Frutaria Sonia, com frutas e comidas importadas. Do mesmo lado do Bar Ideal, na esquina tinha a Drogasil e em frente o primeiro edifício de Campinas,  o Edifício Santana. Na esquina tinha um carrinho que fazia cachorro quente, que ficou lá muitos e muitos anos.

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Descendo mais um pouco, a gente chegava na Livraria Brasil, que era “a” Loja de Discos da cidade. Som excelente, os últimos lançamentos, Ray Conniff, Sylvio Mazzuca, Edmund Ross…Era uma delicia parar encostado na porta e ouvir aquelas novidades. Que seriam tocados nos bailinhos que a gente ia, patrocinado pelos alunos e alunas dos Colégios, que na época eram o Ateneu, o Cesario Motta, o Culto a Ciência.

Descendo mais um pouco tinha o Clube dos Agrônomos, o Eden Bar, a Garbo na esquina e em frente o Café do Povo, ponto obrigatório. Subindo em direção à General Osório, na esquina com a Francisco Glicério tinha a Exposição, que Virou a Regional depois.bonde-avfranciscoglicerio2-1968

O bonde 9, que ia para o Botafogo, levava os alunos do  Culto a Ciência, e não andava assim tão vazio como o da foto…

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Você poderia cruzar com a Gilda ou com o Mané Fala ó…

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